Thursday, September 30, 2010

Carta - Pele com pele

Naquele dia fomos um só. Fizeste-me deixar-te entrar nas minhas muralhas. Nunca pensei que nos unissemos com tanta simplicidade, com a naturalidade de quem pertence ao outro... Do corpo e da alma tirei os véus, revelei-me, fui eu... Naquele dia fui tua. Naquele dia entreguei-me e desejei não mais ser de mim mesma.
De cada vez que os meus olhos encontraram os teus desejei-te mais. De cada vez que os teus lábios tocaram os meus ganhaste um pedacinho de mim... Até me teres por completo.
Senti-te nos meus braços, apertando-me contra o teu corpo como se de mim dependesse o teu respirar, amando-me em cada beijo, entregando-te em cada carícia... E quis ser tudo para ti, ser o brilho nos teus olhos, ser vida a encher-te os pulmões...
Naquele dia, aquele momento... Foi o mais pleno... O mais pleno, amor... E essa entrega é irreversível. Tens-me, eu já não sou de mim mesma. Dei-te os pedacinhos de mim, não tenho como os reaver... O que lhes fizeste? O que é que aconteceu? Sinto-os dispersos, sem rumo, largados na berma da estrada sem ninguém que os reclame... Sou tua, porque é que me deixaste? Não sei se consigo juntar os pedaços todos, alguns partiram-se pelo caminho e já não têm remédio... Outros não encontro em lado nenhum, ainda devem estar contigo e tu já não notas a sua presença.
Reuni os que pude nas mãos, olha para isto, olha! O que é que eu faço com isto? Não sei o que há em ti (ou em mim) que não me deixa esquecer-te. O que existe entre nós que mantém a chama acesa. O que é isso nos teus olhos que ilude os meus. Só queria dar-te a mão quando roço acidentalmente nela, tocar-te na face quando sorris para mim... Acordar o "nós" que foi forçado ao exílio... E eu não compreendo, não compreendo porquê!

Eu sei que acabou e que não há volta a dar. Eu sei que tenho que cumprir com a minha palavra. Só não sei se consigo deixar de sentir o coração aos pulos quando nos tocamos sem querer. Não sei se consigo esquecer o teu cheiro, o teu calor... Por isso te escrevo mais uma carta que não vou enviar. Uma carta de mim para o pedacinho de ti que ainda guardo comigo.

2 Comments:

Anonymous Anonymous whispered...

Tão intenso! Extremamente intenso... Mas com uma beleza incalculável, acredita.

Por vezes as pessoas ficam com bocadinhos de nós, bocados maiores do que gostaríamos. É mesmo assim... Temos é que pensar que somos infinitos. Por muito que demos, ficamos sempre com o que é nosso. Porque é nosso. E sempre será, independentemente das vezes que o oferecermos. Muito confuso?

10:08 AM  
Anonymous Anonymous whispered...

Gata mesmo do outro lado do mundo adorei ler o teu texto! Fez-me sentir um bocadinho mais perto de ti :) Tá optimo mesmo, keep on rocking! Beijinho grande

da tua Jujuca

7:29 PM  

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