Thursday, December 30, 2010

Suspiro salgado

Preciso que me enchas a alma de ti...

Do espelho olham-na dois olhos, brilhantes, fixos nos seus. São cor-de-avelã, com o mesmo contorno dos seus próprios olhos, poderia dizer com toda a certeza que eram os seus olhos que via reflectidos no espelho, não fosse a expressão ser totalmente estranha a si. Era como se falassem consigo, numa súplica viva, gritando no silêncio: Enche-me a alma de ti...
Uma dor assaltou-lhe o peito e apercebeu-se que já não estava em sua casa. O sol iluminava-a toda, construindo sombras no rosto e no corpo, pelo seu ângulo poente; reflectia-se-lhe nos cabelos cor de outouno, conferindo-lhe tons dourados, trémulos ao sabor da brisa...
Diante de si, uma ravina e o mar ondulado, lançando os seus braços ao penhasco, como em busca de um abraço imerecido, implorando. Era como se chorasse, o mar, em ténues sussurros, suspirando um nome que Estrela não conseguia entender.
E o seu choro era uma melodia triste, infinitamente bela, como nunca ouvira... Uma melodia grave, por vezes mais alta, salpicava-lhe as vestes brancas, já gastas do calor e do sal.
Lembrou-se daquele dia em que se deixou levar pelas ondas, por estar tão perto e querê-lo tanto... Agora encontrava-se longe demais para se deixar levar, teria de se atirar ravina abaixo. Desejava apenas que o mar fosse ao seu encontro, a envolvesse e aprisionasse... Que a libertasse daquela dor que crescia no seu peito.
Deixou-se sentar à beira do precipício, ouvindo o lamento marinho... E com as águas o seu coração chorou uma dor que não era a sua, mágoa que atribuía apenas ao mar à sua frente, e com quem esperava ver as suas lágrimas unidas, numa só voz entoando o que ouvira de mais belo na vida.

1 Comments:

Anonymous Anonymous whispered...

Adoro o título! E tudo aquilo que transmites em cada palavrinha que escreves...

1:37 PM  

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