Friday, January 11, 2008

Arde, queima e dói

Olhos tão brilhantes, voz tão envolvente... Oh!, calor bendito num coração triste e amargurado...! "Suave leve brisa", beijo doce na minha face, quem és tu, anjo?
Beleza inalcansável, olhei e caí do meu pedestal de gelo. Cantei para ti, ah!, como sou tão pequena! Para ti, sim, ó pairante neblina, mistério delicioso...!
Não, não me olhes assim, a pele ruborizada. Dá-me apenas a mão, faz-me sentir algo de novo. O valor da pertença... aos teus braços!

Mas o que é isto, o que temos aqui? Luxúria decadente, desejo que se desfaz em pó. Levanta o tapete e vê o que atiraste lá para baixo, escondeste de todos. Vergonha de o mostrar? Como uma mosquinha capturada na grande teia da aranha, não podes lutar, não. Shh... Não podes gritar, a boca está seca, a garganta fechada. Está tudo escuro. Shh... Não tenhas medo...
Peca, todos temos que ser um pouco egoístas de vez em quando. Peca comigo, querida, e consuma esta vontade que derrete, escorre e queima, gotas corrosivas na tua pele. Sentes a luxuriante dor, mosquinha?
Como arde esta loucura leviana...

Quem és tu agora, demónio? Que estás a fazer comigo? Não, não quero isto, não, não assim... Como mil mãos me agarrando, tocam, magoam, mutilam. Tocam... Desejam... Tanto... Sussuras-me, a respiração no meu pescoço, palavras desonestas. Sufocas-me! O medo, o medo deste ser que não conheço, não sinto, não vejo. Quem és tu?!
Mas ai!, o pecado... Os pensamentos negros... Areias movediças puxam-me cada vez mais para o fundo; quanto mais luto mais me afogo. O predador não larga nunca a sua presa, a luta pela liberdade, mas
ai, o toque...
o desejo...
o fogo...
a luxúria...
deixa-me
s
u
c
u
m
b
i
r
...!
o amor...

Olho para ti, anjo negro. Olhos de sensuais mentiras, lábios escondendo algo escaldante, que queima! Grossas lágrimas escorrem pela minha alma, largada no frio escuro, nua, sem pudor. Os meus olhos olham os teus, secos, o meu rosto rígido, escondendo os meus soluços cobardes.

Fraca! Suja! Fácil!!!

Abandonada. Sozinha. Corpo possuído por um momento, nunca desejada por inteiro. Porquê, anjo?
O tempo passa por mim, nunca pára. Despida no silêncio, entre os estilhaços derretidos do meu trono, as lágrimas quentes borram a máscara que cobria a minha face, ferida aberta.

Arde, queima e dói.