Tuesday, February 21, 2012

O Mundo em Mim

Tenho uma música dentro da minha cabeça. Daqui vejo os picos das montanhas com neve tão branca, uma calmaria. Acima estão as nuvens, tão brancas e cerradas, não deixam ver o céu. É tudo tão branco e não sente nada. Completo alheamento da realidade e das sensações, total imunidade a qualquer estímulo, e que alívio deve ser... Às vezes, quem me dera não sentir nada... Ser um globo de neblina de olhar vazio, sem interacção. Sem acção. Ser eu própria silêncio.
Tenho em mim o mundo todo. Não me cabe na palma da mão, claro, é demasiado pequena. Tenho mãos pequenas. Tenho-o em mim, ocupa-me as cavidades todas do corpo e transpiro-o por todos os poros. O mundo. É música na minha cabeça, como se se produzisse dentro de mim e ressoasse. Não sei bem a que soa, é uma trapalhada de música: ora borbulhando-me nos fluídos ora embatendo nas rochas em cascata. Ora escura e uivando. Ora piante, com cheiro a lavanda e mar. Ora demasiado rápida! Ora demasiado lenta... Ora o mundo exactamente no tempo certo.
Tenho um brilho nos olhos. Do mundo todo que está em mim, de onde se canta uma música sempre diferente mas, por vezes, tão insuportavelmente igual! É um brilho de alma, que só tem mesmo aquelas duas janelinhas pequeninas. Verde, amarelo, cinzento, negro pesado, azul, vermelho ardente, lilás, intenso e extenso, apagado e envergonhado, laranja, branco... Branco que nem nuvens, Que nem neve. Branco do outro mundo. Em que há silêncio. Em que há alheamento. Em que hás tu. E tudo o que ficou por dizer e mostrar. Mas aí... já não importa.