Friday, April 10, 2009

Aroma de papel

O cheiro húmido. O cheiro seco. Quente. Cheiro a papel. Papel velho. Papel guardado durante anos. Papel que recebe esta tinta azul. E a bebe e devora e conserva. E compreende e abraça e beija.
Rabiscos de dentro, de coisas que não entendo. Palavras que não se escrevem; gritam, não cabem em mim, transbordam e suplicam.
Porque todos os caminhos vão dar a ti? Todos os pensamentos, todas as banalidades, todos os alinhamentos? Sempre. Porque estás em tudo o que vejo, em tudo o que ouço, em tudo o que toco, tudo o que cheiro...? Até neste papel em que escrevo. Cheiro-te, vejo-te, sinto-te neste papel, como se ele nos ligasse e nos aproximasse, como se a distância não passasse de uma ilusão vazia, uma desculpa para os fracos.
Sofro em silêncio a tua ausência, num silêncio que engole e magoa! Corrói-me de culpa. Destrói-me o desejo de te ter, de te abraçar, de te olhar apenas... Se eu pudesse olhar-te...