Sunday, October 18, 2009

Cair na realidade

Mas, ai! o que é isto que sinto, sem aviso? Se foste e levaste o meu sonho contigo, para quê voltar com prosas líricas, aromas quase passados ao esquecimento...? Que prazer é esse que tens em provocar vida no meu coração imóvel, apenas para depois o dilacerares um pouco mais?
Antes fique parado eternamente, em vez de lágrimas me banharem o rosto novamente! Novamente por ti, novamente porque não estás, porque chegaste e partiste logo!... Deixa a minha saudade velar a tua ausência na paz do silêncio.
Se for para o quebrar, que seja de rompante e em pleno, uma orquestra inteira a anunciar-te! Mil folhas flutuando ansiosas, à espera que lhes beba as tuas palavras, cânticos infinitos de amor e aventuras...! Seria inteiramente tua, atravessaria montes e vales, mares e desertos para te encontrar numa clareira, aguardando-me, sorriso abençoado pelas estrelas...

Porque partes? Porque te vais? Não vás! Porque foste? Vem me buscar... Não me deixes sozinha... Volta, volta para mim!

Sei que não tenho o direito de te pedir isto... Mas, se o que é justo vai contra o que desejo e sinto agora, então cala a doçura na tua voz, apaga, por favor, o brilho dos teus olhos...
E deixa que apenas a saudade me lembre de ti.

Pluma no alto cume

Era uma nuvem negra à minha volta. De uma densidade que a tornava quase opaca e sufocava. O que é que eu tenho de errado? Tento escalar a cordilheira, chegar mais alto para poder assim olhar o mundo como ele é e encontrar conforto na verdade finalmente compreendida, sem o engano de folhagens ou névoas nos meus olhos... Para poder assim seguir o caminho que se estende diante de mim.
Mas quando estou já a agarrar a última pedra do monte mais alto, esta solta-se, escorrego e a queda... quando dou por mim estou no sopé da montanha. E ao olhar a paisagem vejo tudo turvo de novo, nada me faz sentido e aperto da dúvida agonia cá dentro, faz-me dobrar o meu corpo sobre mim própria, agarrada ao peito, cheia de raiva.
Talvez a visão enublada seja apenas sangue escorrendo para os meus olhos da ferida que se abriu quando caí. Talvez baste limpar o sangue e olhar de novo o horizonte... E compreender que é possível que a verdade nunca se mostre inteiramente de uma vez, só porque a persigo em desespero.
Percebi isto contigo... Era uma nuvem negra à minha volta naquela tarde. E é incrível como mesmo depois de tudo o que ouvi e disse, senti uma paz de espírito como há muito tempo não sentia. A verdade atingiu-me sem eu estar à espera, sem a ter procurado; ela veio até mim a acalmou-me o coração. Naquele momento percebi...