Monday, December 12, 2011

Diz-se por aí que o som se propaga melhor na água do que no ar, por uma qualquer propriedade física que o caracteriza. Mas o silêncio, aqui no fundo, é absoluto. Aliás, tanto não há som como também não se sente qualquer brisa, se é que se podem conceber brisas em qualquer outro meio que não o ar. Não há cores, como alguém cantava que devia pintar com as cores do vento... Ora, não há vento, nem há cores. É incolor e estagnado, este líquido em que estou submersa. Um líquido compacto, denso, insinuoso, que não me deixa respirar. Não que respirar seja algo absolutamente vital, já que esta não sou eu, mas apenas uma projecção de mim, cujos pulmões são, como tudo o resto, meras figuras inanimadas que têm de estar subentendidamente presentes para a projecção ser minimamente credível, para mim, que a vejo de fora, qual espectadora, já que mais ninguém a consegue ver.
É um triste espectáculo, na verdade. Uma figura imersa em água, de olhos fechados, sentada de "pernas à chinês", que não respira. No meio do nada. E está escuro, como se subentende (novamente) sempre que se fala em ausência de tudo ou presença de nada, assume-se que há também ausência de luz e, olha, que seja! É um triste espectáculo, dizia. Não que haja alguma expressão de sofrimento ou desconforto... Apenas uma apatia calma e confortável.
Uma pessoa habitua-se a sentir-se confortável na sua redoma, a não deixar ninguém entrar (porque claramente ia perturbar a santa paz que aí reina) mas um dia algo acontece e quando olho, a minha projecção já não está lá. E, subitamente, é como se o respirar fosse mais leve...
Ensinaste-me a amar a realidade. Aquele mundo que era tão preciosamente meu deixou de ter importância, porque onde tu estás é onde eu quero estar.
Existem, no entanto, momentos como este, em que a água parece que chama, traiçoeira e insidiosa. E eu não quero voltar para lá. Eu não quero voltar para lá...