Thursday, October 19, 2006

O Luar lá fora

É engraçado quando tudo acaba, só restam as lágrimas, o rancor, a tristeza e os uivos dos lobos para o luar, tão lindo lá fora. Mas já que tudo acabou, para quê olhar para o luar lá fora? Será quando perdemos tudo que vamos dar valor às coisas mais bonitas e simples da vida: o verde das folhas ao sol, o cheiro intenso, suave, do mar a bater nos pés, talvez o cantar dum pássaro, o rio a correr alegremente (desprezando a nossa desgraça pessoal, quem ele pensa que é?), o luar lá fora! Mas não, nós somos muito mais importantes e o nosso mal é muito maior que toda a alegria e toda a vida do mundo. Nada faz sentido. Concentramo-nos na nossa própria dor, corroemo-nos quase como masoquistas, chorando, berrando, assoando o pobre triste nariz.
Nada que acabe realmente é suposto prevalecer, ou então teria prevalecido. Se é para continuar, não acabou, continuará com certeza noutra altura, mais propícia à continuação. Não que esteja a dizer que estamos confinados ao Destino e dele não podemos fugir, nada disso! Só que o que é nosso é para nós e ninguém nos tira, o que já era nosso antes de o sabermos.
Mas quem é que pensa numa coisa destas quando tudo acaba? Só nos apetece juntarmo-nos aos lobos que uivam, uivando em uníssono para o luar: uivo de tristeza e melancolia, de mais umas tantas coisas parecidas. Esperamos que o luar chore as nossas mágoas, solidário com a miséria do ser.
E se, à janela, nos víssemos chorando e uivando com seres sem razão, praguejando a traiçoeira pêga, que é a vida, banhados pelo mesmo luar, quase ele mesmo lamentando a nossa sorte?
Ridículo.

Monday, October 09, 2006

Lamento nocturno

É à noite... Quando estou já deitada e tento chamar o sono. E não conigo evitar, às vezes, pensar... e lembrar... Voltar tudo atrás no tempo, voltar a viver tudo.
Esforço-me tanto para poder ouvir a tua voz, sentir o teu cheiro, sentir o calor do teu toque outra vez...! Mas porquê...?! Porque é que eu não me consigo lembrar de tudo isso?! Só me resta uma imagem difusa, distorcida pelo tempo. Algumas recordações... Porque é que foste embora? Porque é que não podes voltar? Porquê??...
...
As lágrimas correm impiedosamente pela minha cara, a respiração descontrola-se: Não é justo!! Vem para mim! Mostra-te! Fala comigo!!!
Nada me responde, excepto a escuridão que se torna mais negra que o próprio breu.
Quase te consigo ver ali, à frente dos meus olhos, a tomar forma, a sorrir para mim e a dizer que vai ficar tudo bem... Quase posso sentir o teu abraço, a acalmar-me. Talvez a dizer que te orgulhas de quem sou.
Mas, de repente, já não estás aqui! Partiste outra vez! Deixaste-me de novo...! Compulsivamente a chorar...!!!
E eu queria ter ido em vez de ires tu! E queria poder dizer-te tudo o que não disse! Dizer-te que te amo e que tenho saudades tuas...! Que a mágoa é tanta e a revolta imensa...! E, mesmo sabendo que não há volta a dar, poder pedir-te para voltares!!! Ah... Porquê...? Porquê...
Sei que nunca te vou voltar a ver, nunca te vou poder apertar contra mim. E não consigo ultrapassar... Não consigo...
Desculpa... Perdoa-me por não te deixar ir... Eu não consigo... Não consigo...
Por entre as lágrimas e os soluços o meu coração abre-se para que a minha alma GRITE.
Grita alma, até a sombra engolir todo o desespero. Até que eu adormeça, sussurrando o seu nome...